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Por que estudar Português?

Luan viu a nova professora entrar na sala como se entrava em um parque de diversões. Parecia coisa de filme: a professora sorria de orelha a orelha e estava mais animada que um furacão enquanto espalhava seu material pela mesa e, pegando um giz, se dirigia para a frente da sala.  Como que por um milagre, a sala ficou quieta, observando com expectativa e curiosidade enquanto a mulher, com a pele da cor do café e os olhos escuros brilhando com as estrelas, voltava a sorrir e saudava a turmas com um enérgico bom dia. Todos responderam em unissono. — Quem aí sabe me dizer o porque estudamos literatura e gramática? — ela perguntou, abrindo os braços em um gesto amplo em direção à sala, que permaneceu obstinadamente calada, sem fazer ideia da resposta — Okay, quem sabe me falar uma escola literária? Luan sabia que a tal escola literária que a professora estava falando era um conjunto de características que possuía a escrita em uma determinada fase da História e foi isso o que respo

Uma Pira de Livros

Fahrenheit 451, Ray Bradbury 1984, George Orwell Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley. O Conto da Aia, Margaret Atwood. Harry Potter, J. K. Rowling. Animais Fatásticos, J. K. Rowling. Jogos Vorazes, Suzanne Collins. Passo os olhos pelos livros rapidamente, amando-os por uma última vez. Eles são meus. Eram meus. Sempre serão meus enquanto eu existir. Mesmo que não me reste muito tempo de existência mesmo. Do mesmo modo que faço com os livros, passo meus olhos pelas pessoas que me rodeiam, observando e espreitando. Curiosas, condenadoras, aflitas, em luto, revoltadas, raivosas, maliciosas, desgostosas... Todos os sentimentos se revelam para mim como as palavras de um livro extremamente complicado. Tenho medo de entender o motivo de seus sentimentos, medo de descobrir que aquelas pessoas não sentiam nada de bom em relação ao tesouro jogado aos meus pés. Sinto muito que ele logo será destruído e ninguém o herdará.  Mesmo os melhores escritores do mun

Hibisco Roxo - 4º Resenha

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Protagonista e narradora de Hibisco roxo, a adolescente Kambili mostra como a religiosidade extremamente “branca” e católica de seu pai, Eugene, famoso industrial nigeriano, inferniza e destrói lentamente a vida de toda a família. O pavor de Eugene às tradições primitivas do povo nigeriano é tamanho que ele chega a rejeitar o pai, contador de histórias encantador, e a irmã, professora universitária esclarecida, temendo o inferno. Mas, apesar de sua clara violência e opressão, Eugene é benfeitor dos pobres e, estranhamente, apoia o jornal mais progressista do país. Durante uma temporada na casa de sua tia, Kambili acaba se apaixonando por um padre que é obrigado a deixar a Nigéria, por falta de segurança e de perspectiva de futuro. Enquanto narra as aventuras e desventuras de Kambili e de sua família, o romance também apresenta um retrato contundente e original da Nigéria atual, mostrando os remanescentes invasivos da colonização tanto no próprio país, como, certamente, também no res

A Dama de Ferro

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Os Contos de Isabel sobre a Viagem no Tempo - A Dama de Ferro A sensação era sufocante, como qualquer um poderia imaginar, mas não apenas isso: não havia espaço. As pontas de ferro pressionavam minha pele, afiadas, ao ponto de eu não conseguir respirar sem senti-las perfurando meu corpo. Eu senti as lágrimas encherem meus olhos enquanto eu os abria e não via absolutamente nada. Apenas a escuridão tomava meus olhos, tão assombrada que eu conseguia sentir os demônios sussurrando em meu ouvido. Aquela escuridão era como quando estamos sozinhos, mas temos certeza de não estarmos e quando nos viramos, não há nada, mas para mim, não havia o alívio de descobrir que estava sozinha, porque as pontas não me deixavam virar. E aquela urgência de me virar ficava cada vez mais acentuada, a certeza de não estar sozinha fazia minha nuca picar desconfortavelmente, como eu estivesse sentindo um olhar que não estava ali.  Eu tinha certeza de que não estava sozinha naquele espaço apert

Por que estudar Filosofia?

A professora entrou na sala de aula no primeiro dia de aula. Não desejou bom dia a ninguém, nem mesmo olhou para os alunos, que a esperavam em um silêncio cheio de curiosidade: todos tinham ouvido de outras salas que aquela era a melhor professora de filosofia da escola inteira. Ela entrou, deixou seu material na mesa e fez chamada, tudo com um semblante sério, sem traços de simpatia ou boa educação, o que gerou de imediato um burburinho desaprovador entre os alunos, todas as suas expectativas foram frustradas ao máximo. Por fim, a professora se levantou, foi até a primeira carteira e sussurrou ao ouvido da menina que se sentava ali. A menina, cujo nome era Alice, virou-se, confusa, e sussurrou ao ouvido de seu colega de trás, que fez o mesmo com o colega de trás e assim até o último aluno. A professora se dirigiu à lousa e escreveu: Por que estudamos Filosofia? Então se virou e perguntou: "Qual é o meu nome?" Em coro, a sala respondeu: "Maria Clara&quo

A Falsa Política: O Panem et Circenes Atual

O pão e circo, técnica utilizada pelo governo romano durante tempos de crise para distrair o povo dos problemas sociais, políticos e econômicos. Na Roma Antiga, eram distribuídos pães nos intervalos das lutas de gladiadores, entretenimento da época. Mas o que isso tem a ver com a política atual? Sabe-se que hoje, no Brasil, a política está passando por uma crise imensurável. Há dois lados: a esquerda e a direita. Os petralhas e os tucanos. Os coxinhas e os mortadelas. É quase uma fórmula para iniciar um confronto, seja verbal ou físico, quando se adiciona as centenas de denúncias de corrupção e o sensacionalismo dos veículos de comunicação. A tensão no país pode ser sentida, provada, ouvida nos tons de voz e vista nos enormes textos de Facebook e nos protestos violentos. Mas nesse momento de caos, em que a mídia espalha as tão faladas fake news, em que há mais escândalos políticos do que o povo consegue acompanhar, em que políticos condenados (ou que deveriam estar) mandam e o povo

Por que eu estudo História?

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"Pai, por que eu preciso estudar história?" perguntou meu filho certa vez quando eu estava explicando sobre a Primeira Guerra Mundial. Eu olhei para ele, surpreso e divertido. A alguns anos atrás eu me fazia a mesma pergunta e tal pergunta me perseguiu por anos até ser respondida pela melhor professora que ja tive. Era uma manhã chuvosa, o segundo dia de aula no ano, uma terça-feira, na primeira aula. Eu e meus amigos estávamos conversando sobre a festa que iríamos naquela noite, os quatro alvoroçados pela quantidade de música ruim, garotas e bebida que teríamos a nossa disposição. A nova professora de história entrou sem fazer alarde, como o sol se erguendo silenciosamente durante o amanhecer. Ela caminhou até a mesa, onde colocou e organizou seu material sem pressa. Naquele ponto, todos os alunos já tinham se recolhido para suas carteiras. "Bom dia" desejou e murmúrios a responderam. Havia um giz em sua mão e ela desenhou as palavras com mu