Hibisco Roxo - 4º Resenha

Protagonista e narradora de Hibisco roxo, a adolescente Kambili mostra como a religiosidade extremamente “branca” e católica de seu pai, Eugene, famoso industrial nigeriano, inferniza e destrói lentamente a vida de toda a família. O pavor de Eugene às tradições primitivas do povo nigeriano é tamanho que ele chega a rejeitar o pai, contador de histórias encantador, e a irmã, professora universitária esclarecida, temendo o inferno. Mas, apesar de sua clara violência e opressão, Eugene é benfeitor dos pobres e, estranhamente, apoia o jornal mais progressista do país. Durante uma temporada na casa de sua tia, Kambili acaba se apaixonando por um padre que é obrigado a deixar a Nigéria, por falta de segurança e de perspectiva de futuro. Enquanto narra as aventuras e desventuras de Kambili e de sua família, o romance também apresenta um retrato contundente e original da Nigéria atual, mostrando os remanescentes invasivos da colonização tanto no próprio país, como, certamente, também no resto do continente.


Okay, eu confesso: procrastinei muito antes de ler essa história, apesar de amar Chimamanda pela palestra dela na TEDxEuston: Sejamos todos feministas. Mas quando finalmente o li, meu Deus, o que eu posso dizer? Eu só posso pensar no quão impactada estou. 

Como a sinopse claramente já diz, Kambili, a protagonista desta história, foi criada em um lar extremamente religioso e restrito, sem contato com qualquer outro tipo de cultura, crença ou vida. E esse é um dos primeiros fatores preocupantes na nossa história. Nós vemos em Kambili e em seu irmão, Jaja, alguém que acredita piamente no que lhes foi ensinado durante toda a vida por mais errado que parecesse. É agonizante ter a consciência do quão errado é tudo o que Kambili vive como se fosse normal, passar pelo que ela passa acreditando que tudo aquilo era aceitável foi um processo extremamente complicado em que a cada duas páginas (literalmente), eu sentia a necessidade de para de ler e ir fazer outra coisa para me acalmar.

Esse livro abriu tanto minha mente que eu precisei de algumas horas olhando para a parede para definir tudo o que eu tinha aprendido com ele. Aí vem uma pequena listinha:

  1. A americanização da nossa cultura: definitivamente, eu não tinha reparado o quanto tudo que eu lia era absurdamente espelhado na cultura dos Estados Unidos, mas assim que comecei a ler Hibisco Roxo, esse fato se levantou e me deu uma surra certeira e dolorosa. Eu conheci tantos aspectos surpreendentes do cotidiano nigeriano que era até mesmo difícil imaginar.
  2. A branquidade da nossa imaginação: sempre que escrevo, eu me preocupo em adicionar a maior diversidade possível, mas só com esse livro, e com a óbvia dificuldade em visualizar os personagens como negros, eu percebi o quanto é difícil achar destaque para negros dentro da literatura. Principalmente porque, ao que parece, a maioria dos autores que lemos são brancos. Sinceramente, acho que eu consigo contar quantos autores negros eu li na vida e, vergonhosamente, foram dois.
  3.  A reafirmação de que religiosidade não é algo bom: vale lembrar para este tópico que religiosidade é diferente de fé. Religiosidade é uma coisa tóxica e sufocante que atinge níveis alarmantes nessa história.
  4. A Risada é remédio para a alma: por mais agonizante que pudesse ser, o livro tem seus momentos de alegria e beleza, que são todas baseadas nas crenças e costumes africanos, o que sinceramente, é maravilhosamente delicioso.

Diante de tudo o que falei, só me resta constatar que Hibisco Roxo é um livro que deveria ser lido por todos.

Por Anabel

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