Uma Pira de Livros

Fahrenheit 451, Ray Bradbury

1984, George Orwell

Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley.

O Conto da Aia, Margaret Atwood.

Harry Potter, J. K. Rowling.

Animais Fatásticos, J. K. Rowling.

Jogos Vorazes, Suzanne Collins.

Passo os olhos pelos livros rapidamente, amando-os por uma última vez. Eles são meus. Eram meus. Sempre serão meus enquanto eu existir. Mesmo que não me reste muito tempo de existência mesmo. Do mesmo modo que faço com os livros, passo meus olhos pelas pessoas que me rodeiam, observando e espreitando.

Curiosas, condenadoras, aflitas, em luto, revoltadas, raivosas, maliciosas, desgostosas...

Todos os sentimentos se revelam para mim como as palavras de um livro extremamente complicado. Tenho medo de entender o motivo de seus sentimentos, medo de descobrir que aquelas pessoas não sentiam nada de bom em relação ao tesouro jogado aos meus pés. Sinto muito que ele logo será destruído e ninguém o herdará. 

Mesmo os melhores escritores do mundo nunca conseguiriam escrever a imensidão de tesouros essenciais que estão jogadas aos meus pés, sendo tratadas com tanto descaso. Como diria a Raposa, o essencial é invisível para os olhos. E, a julgar pelos olhos que passeiam com desdém para os meus livros, ela estava certa. Com esses livros, eu viajei mundos. Com essas palavras, eu chorei e senti felicidade verdadeira. Com essas letras eu me encontrei e me perdi. Era a vida, disse Jonas, ela parecia mais completa. Quanto mais eu experimentava, mais eu queria.

Sem eles, eu teria vivido uma vida de sombras, distanciando-me cada vez mais do que me torna humana: o amor. Sem eles teria me tornado um ser sem empatia, sem delicadeza para com os sentimentos alheios. Sem eles eu não poderia ver.

Ver que as pessoas o que me rodeiam não viram, ver que o profundo, imenso e indescritível sentimento que toma as almas humanas ao ler um livro é maior do que qualquer palavra ou qualquer significado. O que as pessoas ao meu redor desprezam, eu amo. O que elas odeiam, eu entendo. O que elas queimam, eu protejo. E quando elas destroem, eu crio.

Tudo isso porque livros me ensinaram, foram meus mentores, meus amigos, meus confidentes, meus apoios, meu pais quando eu não os tive, meus irmãos quando eu precisei deles, minha família quando eu não tinha ninguém, meus tripulantes quando eu atravessei tempestades nos mares revoltos da vida, meus companheiros em meio a todos os perigos. Usando um velho clichê, foram eles que me mostraram que eu não estava sozinha.

Os livros me ensinaram a amar, me ensinaram a entender, me ensinaram a respeitar, me ensinaram a não temer o desconhecido, me ensinaram a ser prática, me ensinaram a cometer erros, me ensinaram a cair, me ensinaram a me reerguer, me ensinaram a levantar os outros, me ensinaram a ser empática, me ensinaram a não desistir, me ensinaram a gritar perante a injustiça, me ensinaram a protestar por aqueles que precisavam.

Até que o silêncio veio, como uma nuvem de boas noites se erguendo sobre uma cidade. Minúscula se comparada à grande metrópole da mente humana, mas com o poder de inundá-la de medo, ansiedade, pavor, culpa, depressão, tristeza e luto. E, em meio a tudo isso, eu não poderia deixar de perguntar quem não veria o que para mim era tão claro.

É, acho que as pessoas que não leem livros têm os olhos tapados, os ouvidos filtrados e uma mente pequena, como outros costumavam dizer. E deixaram que todos que não gostavam fossem silenciados antes de perceberem que o silêncio valia para todos.


Então, todos entraram docemente naquela boa noite, sem se revoltar contra o apagar da luz.

Não entre docemente naquela boa noite, 
A velhice deve arder e delirar ao fim do seu dia;
Revolte-se, revolte-se contra o apagar da luz.

Embora os sábios, ao morrer, saibam que a escuridão é o certo,
Porque suas palavras não provocaram centelhas, eles
Não entram docemente naquela boa noite.

Os homens bons que, ao dar o último adeus, bradando
Que seus frágeis feitos teriam aliados numa verde baía
Revoltam-se, revoltam-se contra o apagar da luz.

Homens selvagens que abraçaram e cantaram o sol na altura
E aprendem, tarde demais, como o afligiram em sua travessia
Não entram docemente naquela boa noite.

Os homens graves, à beira da morte, ao ver com um olhar que os cega
Olhos cegos que podem arder feito meteoros e se alegrar,
Revoltam-se, revoltam-se contra o apagar da luz.

E a você, meu pai, aí nessa triste altura, agora
Imploro que me amaldiçoe e me abençoe com suas lágrimas ferozes.
Não entre docemente naquela boa noite,
Revolte-se, revolte-se contra o apagar da luz.

E, enquanto o fogo lambia meus pés, enegrecendo as páginas cheias de lágrimas, dor, tristeza, amor, alegria e tantos outros sentimentos e sabedorias, eu não entrei docemente naquela boa noite. E queimei por isso.

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