A Dama de Ferro

Os Contos de Isabel sobre a Viagem no Tempo - A Dama de Ferro




A sensação era sufocante, como qualquer um poderia imaginar, mas não apenas isso: não havia espaço. As pontas de ferro pressionavam minha pele, afiadas, ao ponto de eu não conseguir respirar sem senti-las perfurando meu corpo. Eu senti as lágrimas encherem meus olhos enquanto eu os abria e não via absolutamente nada. Apenas a escuridão tomava meus olhos, tão assombrada que eu conseguia sentir os demônios sussurrando em meu ouvido.

Aquela escuridão era como quando estamos sozinhos, mas temos certeza de não estarmos e quando nos viramos, não há nada, mas para mim, não havia o alívio de descobrir que estava sozinha, porque as pontas não me deixavam virar. E aquela urgência de me virar ficava cada vez mais acentuada, a certeza de não estar sozinha fazia minha nuca picar desconfortavelmente, como eu estivesse sentindo um olhar que não estava ali. 

Eu tinha certeza de que não estava sozinha naquele espaço apertado e desesperador, estava certa de que alguma coisa me vigiava, que estava se aproximando de mim lentamente, como uma cobra se enroscando no meu corpo. O desespero para me virar tomou todo meu corpo com um arrepio intenso que me fez estremecer audivelmente, mas eu não podia, porque as hastes de ferro me cutucavam grosseiramente, ferindo meu corpo.

Havia algo aqui dentro comigo, o medo sussurrava na minha mente e eu desejava que aquilo simplesmente acabasse, que minha mente silenciasse, que eu pudesse sair daquele espaço apertado.

Eu precisava sair, precisava sair, precisava sair, precisava sair...

O pensamento batia como um sino dentro da minha mente e eu lutei contra a agonia que pressionava minha garganta. Eu podia sentir meu coração batendo forte contra o peito. Cada batida acentuava a sensação de sufocamento, me dando ânsia de vômito. Cada segundo era um milênio, não havia o que pensar, não havia como me distrair. Havia apenas o metal gelado e afiado contra minha pele, a escuridão opressora, a sensação de estar sendo sufocada, a crença perversa de que eu não estava sozinha e a necessidade de sair dali para finalmente poder respirar.

Eu não conseguia. Eu não conseguia respirar. O ar não era suficiente naquela prisão escura e pequenina e o cheiro fazia minha ânsia piorar. Cheiro de ferro, de sangue, de vômito, de morte e de desespero. Ele fazia meu estômago embrulhar e meu corpo convulsionar em ânsias cada vez mais fortes. Isso, misturado ao meu desespero total e agonia para sair, fez com que eu engasgasse. Eu quis balançar com a tosse para tentar desobstruir minha garganta, mas me era impossível e ar apenas ficou mais pesado e denso, me fazendo engasgar ainda mais por ar enquanto a vontade de vomitar fazia meu corpo tremer.

Não demorou muito para que eu vomitasse. A bile subiu pela minha garganta e eu engasguei com ela também, perdendo totalmente o ar que buscava. A bile transbordou pela minha boca, líquida e amarga, se misturando com o catarro, o sangue e as lágrimas que já escorriam pelo meu rosto, descendo pelo meu queixo, meu pescoço, meu corpo enquanto eu lutava para permanecer imóvel, tentando evitar que as pontas de ferro me atravessassem.

Eu não conseguia aguentar a dor de ficar ereta, meus pés plantados no chão congelado de ferro doíam como se estivesse sendo arrancado. No lugar das unhas que eu um dia tivera havia apenas um comichão constante de dor. A falta de comida custava caro ali dentro, onde eu tinha de me manter estendida, minha carne tensa para que não fosse cortada. Eu precisava sobreviver, precisava, precisava, precisava...

Mas aquelas pontas afiadas eram tão convidativas. Elas poderiam dar um fim para o meu sofrimento, poderiam fazer aquilo parar, eu poderia simplesmente desistir, poderia me atravessar com aquelas hastes de ferro até que a escuridão me tragasse para sempre. O pensamento reivindicou minha mente, tomando-a contra a minha vontade, como um homem poderoso que acredita ter direito a possuir todos aqueles que estão sob suas ordens. Eu quase sorri, me imaginando fora daquele lugar. Era tentador demais a ideia de desistir, de simplesmente se deixar ir...

Mas o cheiro de sangue voltou a tomar minhas narinas e isso clareou minha mente o suficiente para que eu desistisse da ideia. Havia pelo que lutar, pelo que viver.

Todo o meu corpo ainda estava retesado e cansado, mas eu não relaxei um segundo, o cheiro que tomava cada uma de minhas respirações voltou a me fazer querer vomitar e tudo me atingiu mais uma vez: a sensação de não estar sozinha, de estar sendo sufocada, de não conseguir respirar. Cada batida de coração era uma tortura e uma benção, pois era um segundo a menos naquele inferno.

E havia esse pequenino espaço em minha mente que me mandava ficar ali e aguentar. Eu não daria o que aqueles padres desejavam com todo o ardor de sua fé distorcida e mal compreendida. Eu não contribuiria para aquela caçada doentia, não se pudesse evitar. E esse pequeno pedaço da minha mente invocou uma frase que eu memorizara a muito tempo atrás, de um escritor que eu já nem mesmo lembrava o nome e com cuidado, eu recitei cada palavra através da minha ânsia como se aquilo pudesse salvar minha vida, porque naquele momento, podia.

"Se você vai tentar, vá até o fim, se não, nem mesmo comece"

Era um poema, mas eu não conseguia me lembrar dele inteiramente não importava o quanto eu tentasse. E não importava, porque eu escolhi tentar a um longo tempo atrás. E se fosse para chegar no meu fim quebrada, traumatizada, despida de qualquer inocência que eu pudesse ter, que fosse, mas eu chegaria ao fim.

Mas a dor que eu estava enfrentando, ah, era demais. Demais para pensar nisso por menos de alguns segundos. Ela era a maior parte da minha mente, que estava tomada pelo medo, pelo desespero, pela necessidade de sair. Eu contei as batidas do meu coração, ofegante novamente.

Tum-tum.
Tum-tum.
Tum-tum.
Tum-tum.

A respiração curta e rasa parecia chegar apenas até a minha garganta, sem encher meus pulmões e eu tinha a sensação de que a minha cabeça estava sendo pressionada com força. Não era uma sensação boa. Era desesperadora, na verdade, me fazia querer gritar para tirar aquilo de mim, mas não havia espaço para gritos ali dentro. Um grito ali só pioraria tudo, enchendo meus ouvidos e minha cabeça, fazendo minha mente se estilhaçar de uma vez. 

Ali, naquele inferno, havia apenas o silêncio opressor sendo constantemente cortado pelo meu vômito, minha respiração entrecortada e meus soluços. Não havia nenhuma dignidade a que eu pudesse me agarrar. As pontas afiadas de metal me crucificavam, crucificavam meu corpo, minhas crenças, minha alma, o meu ser. Não havia nada ali, exceto aquele ínfimo pedaço da minha mente, que ficava cada vez mais fraco, que me impedisse de desistir. Aquilo era o inferno.

Eu era apenas lixo ali dentro, para aquelas pessoas. Escória. Bruxa, bruxa, bruxa, bruxa...

Um grito desesperado saiu da minha garganta, enchendo aquele lugar na qual me obrigaram a ficar, enchendo meus ouvidos com seu eco estrondoso. Aquilo não era um grito, era o som horrível e desesperado de um animal. Meus instintos mais primitivos tomavam conta e eu queria me debater, sair dali, sair dali, sair dali, sair dali, sair...

E assim eu fiquei. Um segundo, dois segundos, meia hora, quatro horas, vinte... apenas sentindo meu coração batendo e contando cada batimento para impedir que a loucura tomasse conta de mim.

Tum-tum.
Tum-tum.
Tum-tum.
Tum-tum.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Minhas Histórias no Wattpad

As Memórias do Passado: a Harry Potter Fanfiction

Ordem da Fênix e as Memórias do Passado: a Harry Potter Fanfiction