Raiva do meu Mundo

Eu não sei exatamente o que me trouxe aqui hoje para falar sobre o que estou falando agora. Talvez tenha sido Deus, talvez o destino, talvez tenha sido um acaso. Em cunho espiritual posso falar "talvez", mas não foi o que me trouxe aqui hoje realmente. O que me trouxe aqui hoje foi a combinação de racismo, homofobia e machismo que assola de tal forma os seres humanos, que deixam o mundo doente.

Eu não posso me calar, no entanto. Eu entendo que sempre fui muito privilegiada: sou branca, sou de classe médio, heterossexual, magra e cisgênero, o que quer dizer que o único privilégio que eu não tenho é ser homem, mas, Deus me perdoe, eu estou com raiva.

Não, eu não estou só com raiva, eu estou furiosa. Estou tão furiosa que poderia incendiar o mundo inteiro. Eu me sinto só e revoltada e com frio e triste. Não vi nem mesmo uma parcela do mundo e estou completamente horrorizada. Como pode o mesmo homem que constrói e faz coisas tão belas matar pessoas só pela vista? Eu não consigo entender a crueldade gratuita com quem é diferente, eu não consigo entender preconceito e não posso me calar sobre isso.

Nesse momento, enquanto eu escrevo, há algo tão pesado dentro de mim. Algo que quer sair e gritar para tudo e para todos que eu não suporto mais o sofrimento de outras pessoas. Que eu não posso ver seres humanos, meus semelhantes, sendo marginalizados por causa da cor da pele, da sexualidade, da religião, ou mesmo do gênero. Não posso mais ver uma espécie que tem tanto potencial separar-se uns dos outros. 

Hoje, eu posso discutir política com alguém sem me importar se a pessoa com quem eu estou conversando com maturidade e mesmo assim vejo pessoas mito mais velhas que eu gritando uns com os outros por causa de seus posicionamentos, sem entender, ou se importar, que a decisão não é deles.

"Ser mulher é sentir medo."

Ser negro é sentir medo.

Ser gay é sentir medo.

Ser lésbica é sentir medo.

Ser Drag é sentir medo.

Ser trans é sentir medo.

Ser humano é sentir medo.

Mas a minha geração não tem mais tanto medo. Minha geração queima com a raiva de mil sóis e esse fogo é alimentado com o medo que nossas mães sentiram em andar na rua tarde da noite, é alimentado com o medo que nossas tias sentiram ao serem violadas, torturadas, abusadas, estupradas, é alimentado com o fogo em que queimaram as bruxas nas fogueiras e com os objetos com os quais eram torturadas, é alimentado pelo sangue derramado por pais homofóbicos, é alimentado pelos empregos perdidos por causa da cor ou do gênero, é alimentado pelo seu ódio.

Como a fênix, minha luta não morre: apenas vira cinzas para viver com ainda mais intensidade e mais coragem, para queimar com cada vez mais força até que presenciemos a aurora do tempo e o fim de nossa luta. Eu não desisto, porque há pessoas que precisam ouvir minha voz para saberem que elas têm a própria voz. Eu grito para ser ouvida, eu grito para pedir socorro por aquelas que ainda não sabem gritar, eu grito por mim, pelo futuro daqueles que eu amo, pelo futuro daqueles que eu conheço e também pelo futuro dos que eu não conheço.

Minha religião é a humanidade e não importa quantas vezes ela falhe, ainda assim continuo a acreditar que minha luta vale a pena travar. Eu não tenho medo, porque minha raiva é mais forte, eu não tenho medo, porque eu sou fogo, eu não tenho medo, porque não estou sozinha, eu não tenho medo, porque preciso de um mundo melhor. E eu vou lutar para que isso seja real, com tudo que eu tenho, toda a minha alma, toda a minha dor, toda a minha alegria, toda a minha intensidade. Eu vou queimar até que todos os meus inimigos (inimigos que separam, matam e torturam) sejam incinerados pelo fogo que eu e tantos outros são.

Quando eu era criança, não podia nem sequer começar a compreender o que levava meus heróis e minhas heroínas a fazer o que faziam. Hoje, eu entendo. É o fogo que arde dentro de nós, um fogo que clama por justiça, que clama por um mundo melhor, que nos contagia com sua própria magia feita de chamas.

Por isso eu vou arder, tão quente quanto o Sol e tão destemida quanto o fogo.

Ser humano é sentir medo.

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