A Escolha - Série A Seleção One-shot

P.O.V Maxon
America olhava para as paredes, evidentemente desconfortável. Ela parecia perdida, apesar de tentar parecer feliz.
Aquilo me confundia de muitas maneiras enquanto eu a observava discretamente. Ela amava o soldado Leger, não amava? O que vi ontem não provava aquilo?
As perguntas de meu pai penetraram minha mente mais uma vez, fazendo-me encher de raiva contra América. O meu pai tinha razão. Eu não quis ouvi-lo: quando anunciei que faria minha escolha, Clarkson me procurou e pressionou a me perguntar se América não era uma oportunista.
Eu, cego de amor, nunca notaria aquilo, é claro. Até vê-la com aquele soldado. Minha atenção foi desviada quando Gravil pediu silêncio e falou:
"Bom dia, Illea!! É um prazer noticiar algo tão importante nesse glorioso dia. Hoje, nosso querido príncipe Maxon escolherá a nossa futura rainha!"
Busquei o olhar de minha mãe, no outro lado do Salão. Ela tinha um sorriso suave no rosto, como se confiasse que eu faria a escolha certa, mas como eu podia fazer isso se nem eu sabia qual era a escolha certa?
"Mas primeiro" Gravil continuou dizendo "ouviremos algumas palavras de Sua Majestade, o rei Clarkson."
Meu pai se levantou de seu trono com o habitual semblante sério. Era incrível como ele não parecia se alegrar com nada. Nem mesmo com o noivado do próprio filho.
Mas até aí ele não se alegrara nem com o próprio filho.
Eu estava cansado e com raiva. Com raiva de América por quebrar meu coração. Com raiva de Clarkson por ser tão tirano e egoísta e por não ter sido um pai. Com Kriss por não conseguir amá-la. Com minha mãe por nunca se levantar contra meu pai, nunca protestar*. Com a vida por ser tão dolorosa e complicada. Com o fato de ser um príncipe que precisa se casar.
"... estarem aqui." Meu pai terminou de falar e se sentou. Gravil anunciou:
"Agora ouviremos os pais das Selecionadas. Primeiro o sr. Ambers"
O pai de Kriss se levantou e cumprimentou Gravil com um sorriso afável igual ao de sua filha. Ele falou sobre como ficaria feliz se Kriss também ficasse e de como eu era um bom garoto. Até que Gravil anunciou de novo:
"Agora, Shalom Singer"
Vi o pai de América se levantar com um sorriso que, diferente do pai de Kriss, era aberto, vigoroso e misterioso. Aquele homem foi um dos mais enigmáticos que conheci.
Ele obviamente amava sua família, isso era óbvio. E amava América incondicionalmente. Seu olhar era gentil, mas escondia sagacidade e sabedorias fora do comum. Ele andou até Gravil e o cumprimentou com um prazer vigoroso, ao qual o apresentador correspondeu com igual força.
Estranhei aquilo e estranhei ainda mais quando Geórgia e August se entreolharam na mesa deles.
Shalom se sentou ao lado de Gravil, que, depois de uma rápida introdução, perguntou:
"Acha que o príncipe Maxon deveria escolher a Srta. America?"
Shalom não hesitou antes de responder:
"Acho que ele deve escolher quem ele ama"
O apresentador sorriu levemente, como se soubesse algo, e perguntou:
"Mesmo que isso quebre o coração de nossa amada Srta. América?"
Shalom suspirou e trocou com Gravil um olhar exasperado, ao que o apresentador só encolheu os ombros, divetido. Os dois se falavam como se fossem velhos amigos, notei.
"O príncipe tem duas alternativas maravilhosas, mas pessoalmente acredito que ele precisa escolher quem ele ama, porque isso é o mais justo a se fazer. Tanto para o povo quanto para ele mesmo." o homem pausou "ao escolher minha filha, não amando-a, o príncipe tornaria a vida dos dois infeliz. Caso não escolha minha Ames, amando a Srta. Ambers, pode machucar a minha filha, mas não estará condenando-a a uma vida sem amor, ou felicidade"
Minha garganta se fechou diante do discurso veemente de Shalom Singer. Ele tinha o mesmo talento que a filha quando o assunto era impactar alguém.
"Algum conselho para o príncipe Maxon?" Perguntou Gravil suavemente. Shalom hesitou e assentiu. Olhando nos meus olhos, como se enxergasse minha alma, ele disse:
"Alteza, escolha a mulher que você ama. Aquela pela qual levaria um tiro. Aquela que faz seu coração bater mais rápido sempre que você ouve a voz dela. Escolha aquela que, mesmo com todos os defeitos, você queira ver cada parte. Aquela em que você confia o suficiente para entregar seus segredos mais íntimos. E principalmente, escolha a mulher que, mesmo quando está furioso com ela, consiga fazer com que você perca o fôlego ao vê-la. E, se você não sabe como identificá-la, pense em uma vida com ela e veja o quão insignificante é uma briga e no quanto significa um abraço, um beijo, um olhar, um gesto." Ele pausou e, se eu não soubesse que ele e a família haviam chegado a apenas uma hora e não tinham visto América nesse meio tempo, eu poderia achar que ele só estava falando aquilo para que América ganhasse. Mas havia uma aura de honestidade naquele homem. Era impossível duvidar da verdade no que ele falava "Escolha sabiamente, alteza, porque os homens, em geral, nunca se recuperam de perderem o amor de suas vidas... Escolha aquela com a qual você não pode viver sem. Vai descobrir que estar em um relacionamento nunca vai ser fácil, mas que as brigas, o ressentimento e a raiva nunca importarão tanto quanto senti-la nos braços e tê-la junto de si. E, por último, entenda que as três palavras... O 'eu te amo' não significa nada. São apenas três palavras. Você nunca precisará falar se provar que é verdade"
Como eu previ, aquele discurso me abalou completamente. Shalom parecia enxergar dentro da alma das pessoas e isso era desconfortável.
Mas suas palavras atingiram em cheio a mim.
Primeiro, quando ele disse que seria injusto que eu escolhesse alguém que não amo. Aquilo me fez perceber o quão egoísta eu estava sendo. Eu nunca poderia amar Kriss. Nunca poderia dar a ela a felicidade que o amor traz. E Kriss merecia mais do que um amor pela metade.
Segundo, quando ele disse que brigas e dores perdiam o significado perto de uma vida inteira de amor. Pensei em America entrando na igreja de branco, com seus lindo cabelos ruivos contrastando com o tecido. Pensei em America dormindo, seu rosto pacífico e seu corpo nos meus braços. Pensei nela tocando piano no Salão das Mulheres. Pensei nela se divertindo com Marlee, Anne, Mary, Lucie, Celeste e May ao redor do castelo. Pensei nela grávida dos nossos filhos e pensei na aparência que poderiam ter. Pensei em seus cabelos cor de fogo adquirindo a tonalidade grisalha da velhice e as rugas de sorrisos radiantes em seu rosto. E, por fim, pensei na briga de hoje. Parecia tão patético perto da felicidade que eu vira em minha imaginação.
Terceiro, quando ele disse que as três palavras não significavam nada. Eu me lembrei de América correndo para salvar Marlee das chibatadas, me lembrei de que ela atacou Celeste por falar mal de Marlee, me lembrei no encontro das duas no quarto da Princesa. Ela nunca disse que amava Marlee, mas eu podia ver aquilo, era tão forte que eu tinha a sensação de poder tocar o amor de uma pela outra.
Lembrei-me de quando América anunciou no jornal Oficial seu plano para acabar com as castas, de quando ela me ensinou o que era passar fome e quantas pessoas do meu povo sorriam por isso, de quando ela não condenou Adam e tê-lo pagar uma fiança para meu pai, de quando recusou fazer o pronunciamento que meu pai preparara. America amava Illea e amava o povo e ela nunca disse aquilo em voz alta, mas era nítido.
E então, ao contrário, pensei em quantas vezes meu pai falou que me amava. E em quantas chibatadas eu levei por esse amor. Pensei na frieza e na falta de sentimento. Meu pai não me amava e mesmo assim dizia que amava.
E então, eu me lembrei de América no abrigo enquanto chorava e limpava os ferimentos em minhas costas. Pensei nela dançando comigo durante a chuva. Pensei em nosso gesto especial. Pensei na tristeza que vi em seu rosto quando achou que iria embora depois da transmissão do jornal Oficial. Pensei nas lágrimas dela na nossa briga hoje. Pensei na emoção em seus olhos ao ver meu mural de fotos. Pensei na noite em que ela tentou me seduzir. Pensei na espontaneidade de suas falas e suas atitudes.
E finalmente me dei conta de que eu não amava América Singer.
Eu amava América Schreave, minha esposa e Rainha de Illea. E por amá-la, eu não podia deixar que ela fosse embora e não se tornasse essa pessoa.
Finalmente, Gravil me chamou. Eu olhei para América, que me olhou de volta e mexi na orelha. Vi ela arregalar os olhos, confusa, enquanto me levantei e anunciei:
"Boa tarde, Gravil. É um prazer estar aqui. Hoje, é o dia em que eu escolho minha futura esposa e Rainha desse país." Eu pausei deliberadamente antes de continuar "mas muito mais do que isso, hoje é o dia em que eu irei escolher para ser minha esposa, o amor da minha vida. A mulher com a qual eu não poderia viver sem. Eu gostaria de pedir a mulher mais determinada, ousada e de caráter irrepreensível em casamento esta tarde."
Eu me virou e olhou tanto para Kriss quanto para América. Para Kriss lanço um pedido de desculpas silencioso, rezando para que ela o interpretasse bem. E então me fixo em América.
Ela me olha, obviamente confusa, mas não vejo esperança em seu olhar. Na verdade, noto que, apesar da maquiagem, os olhos dela estão inchados e ela parece cansada.
Aquilo me enche de pesar, mas continuo:
"América Singer, meu coração é seu, e pode quebrá-lo mil vezes se desejar. Sempre foi seu para fazer dele o que você quisesse mesmo." Dei de ombros como se não importasse, porque naquele momento, para mim, realmente não importava "Mas peço na frente de todos, não como um príncipe, por isso você pode recusar, mas como um homem loucamente apaixonado por você: casa comigo?"
America se levantou com o olhar cauteloso e pergunta:
"Você... você não está com raiva de mim?"
Obviamente, ninguém estava entendendo nada, mas eu não me importava. Não nesse momento.
"Estou, mas acredito que poderemos resolver esse assunto com um pouco de conversa" respondj e ela arregalou os olhos, chocada "porque eu não posso mais passar um dia da minha vida sem você, América. Eu não suporto a ideia de ficar sem você, de nunca vê-la entrando na igreja, nunca vê-la carregando nossos filhos. Porque eu te amo tanto que não posso deixar você ir, a menos que você me peça isso."
Ela me encarou, sabendo que eu falava sobre o soldado Leger, mas América não hesitou em se jogar em meus braços e sussurrar no meu ouvido:
"Sim"
Aquela palavra fez com que todas as minhas preocupações fossem embora.
Nós conversaríamos e nos resolveríamos. Nós enfrentaríamos Clarkson e cuidaríamos de minha mãe.
Com ela em meus braços, eu soube que tudo ficaria bem.
"Pai, você é muito meloso" disse Eadlyn disfarçando um sorriso.
"Ele é romântico" corrigiu Ahren "é só que você é muito rígida"
Maxon riu junto de América.
Eles, Eadlyn e Ahren estavam sentados no chão do jardim. Os governantes de Illéa. Kaden, com quatro anos, dormia no banco onde Maxon e América se conheceram.
O rei e a rainha estavam sentados no chão, encostando as costas no banco enquantos seus dois gêmeos estavam deitados em seu colo.
"Mas eu tinha razão" disse Maxon para a filha com carinho "tudo ficou bem."
*Desculpem, realmente me dói falar de Amberly assim, porque eu a amo muito, mas eu nunca vou entender como ela pôde nunca fazer nada sobre as óbvias coisas que estavam erradas nessa merda de reinado que foi o do marido dela.
E acho que ela falhou com Maxon como mãe por nunca perceber que o idiota do Clarkson batia no filho dela.

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