Filha do Inimigo - Prólogo

O rei Regim olhou para o castelo em ruínas que servira de campo de batalha apenas meia hora antes. Os cadáveres dos soldados que morreram em batalha, amigos e inimigos, estavam sendo cremados nesse momento.

Os soldados que restaram ajudavam os feridos e faziam buscas pelos escombros do castelo. O homem preso e amordaçado guardados por dois guerreiros ao lado do rei tinha um olhar preocupado e era bom que tivesse: Regim nunca toleraria uma revolta. Saeva de Sanerah seria executado junto com todos os seus soldados. O rei, ao pensar nisso, olhou imediatamente para as mulheres e crianças num canto do extenso pátio. Todos eles choravam a morte e a dor e o luto, com os olhares destruídos, mas resignados, na direção do exército do rei.

O coração do jovem Regim se apertou. Violência nunca combinaria com seu olhar gentil e coração justo, muito menos liderança: um líder tinha nas mãos a vida de milhares de pessoas e uma decisão poderia fazê-las sofrer o Inferno ou levá-las aos Céus. Infelizmente, nenhuma decisões poderia fazer o bem a todos, sempre prejudicaria alguém. Era o dever de um líder prejudicar o mínimo de pessoas possíveis sem parecer fraco ante outros reinos.

Mas onde estava o bem naquilo tudo? ele se perguntava enquanto observava os corpos no chão com os estômagos perfurados por lanças, as cabeças abertas por machados ou flechas... Regim estremeceu com essa visão. Mas os inocentes vivos também eram igualmente difíceis de encarar, pensar que as mulheres logo se tornariam viúvas e as crianças se tornariam órfãs, se já não o fossem...

"Magestade" sir Heros, comandante de seus exércitos e amigo confidente, chamou-o de longe. Em seu colo estava uma criança, uma menina que não poderia ter mais que sete anos. Ao lado do rei, Saeva tentou se levantar, parecendo afobado, mas foi forçado a ficar de joelhos novamente por seus guardas. Regim olhou para seu inimigo com curiosidade, antes de voltar-se novamente para a criança nos braços de Heros, que parecia amedrontada demais para falar algo. O comandante chegou ao rei e falou "Achamos essa garota nos aposentos de milorde Saeva, magestade."

A menina tinha cabelos pretos e olhos âmbar como os de uma águia, sobrancelhas grossas, assim como os fios de seu cabelo, um maxilar delicado e nariz pequeno. Não era preciso ser um Vidente para saber que ela seria muito bonita quando chegasse à idade adulta. A garotinha olhava para Saeva com os olhos arregalados de medo enquanto ele estava paralisado.

Regim, atônito, fez um gesto para que retirassem a mordaça de Saeva. O homem não reagiu. Ele estava mortalmente pálido e tremia visivelmente. Todos encaravam aquilo com assombro: Lorde Saeva nunca demonstrava suas emoções, nem em um casamento, nem em um funeral, era o que diziam.

"Gwen" disse Saeva depois de vários minutos de silêncio.

"Papai" a menina respondeu com hesitação, os olhos grandes de âmbar olhando para o homem como se ele fosse a unica coisa no mundo. Regim arregalou os olhos com surpresa e trocou um olhar silencioso com Heros. Os soldados ao redor tinham esquecido de suas funções e encaravam aquilo com claro assombro.

"Ah, carinho" disse Saeva deixando seus olhos frios se derreterem em ondas de amor "eu sinto muito"

Regim olhou para seu ex-melhor amigo em choque. Saeva tinha uma filha. A menina parecia muito perdida e assustada. Como era possível que Saeva tivesse uma filha e não houvesse lhe contado?

Mas a dura realidade penetrou a mente do rei mais uma vez e ele se recompôs: Saeva nunca havia sido seu amigo.

"Explique-se, Sanerah" o Rei disso em tom de comando, como costumava falar com os cachorros, o que fez Saeva rosnar:

"Não banque o rei comigo, Regim. Conversaremos longe da minha filha" era incrível como o tratamento de Saeva para com ele não tinha mudado. Regim, que nunca havia se importado com o jeito brusco, rangeu os dentes, mas ordenou que Heros tirasse a menina dali. Era um pedido razoável.

"Explique-se" disse p rei para seu inimigo.

"A mãe da menina não é Liana" disse, referindo-se à falecida esposa "a mãe dela também morreu, no entanto. Ela buscou morada em minha casa, tinha vindo das Indias como escrava e fugido até aqui."

"Você amava tanto Liana" disse Regim com a expressão em branco "e a traiu?"

"Eu amei Liana" afirmou Saeva com os olhos verdes brilhando de sinceridade "Mas minha esposa morreu a sete anos, Gwen só parece ser mais velha do que é. A menina tem apenas cinco anos, Regim"

"E o que quer que eu faça com ela?" perguntou Regim amargamente "a filha bastarda de um lorde que traiu o rei."

Saeva não vacilou quando Regim falou aquilo. Não havia arrependimento, ou culpa nos olhos dele, mas ele disse com calma:

"Não deixe minha menina morrer, Regim. Nós dois sabemos que ela é inocente, nunca soube de nada do que eu fiz. Leve-a para Gavina"

Regim retrocedeu ao ouvir o nome, assim como já esperava fazer. Ele sabia que Saeva o surpreenderia, mas aquilo?

"Gavina não merece o desgosto de saber sobre o que você fez" respondeu, apesar de saber ser inútil.

"E vai esconder isso dela até quando?" perguntou o inimigo com um meio sorriso sarcástico no rosto bonito e jovem "Nós dois sabemos que ela é a única capaz de criar Gwen sem odiá-la por minha causa"

"Uma pergunta" disse Regim em voz baixa para garantir que nenhum de seus soldados ouviria. Ambos sabiam que a resposta de Saeva definiria o futuro de Gwen "nossa amizade algum dia teve importância para você?"

Os olhos de Saeva brilharam e ele ficou um bom tempo em silêncio, o rosto em branco. Apenas Regim podia ver a luta nos olhos do homem, que enfim respondeu com uma voz cansada:

"Houve um tempo, quando a aurora se punha na beira das nossas janelas, em que a sua amizade significou tudo para mim" ele hesitou e completou "Não mais."

Regim avaliou o homem, medindo a verdade de suas palavras. Se fossem realmente verdade, ele sabia onde procurar e pelo que. Então o rei disse:

"Levem-no daqui" Saeva seguiu os guardas sem reclamar. Regim chamou Heros, que se aproximou com Gwen ainda no colo. Ela chorava, olhando impotente para o pai "Leve-a para Gavina"

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Minhas Histórias no Wattpad

As Memórias do Passado: a Harry Potter Fanfiction

Ordem da Fênix e as Memórias do Passado: a Harry Potter Fanfiction