A Queda da Casa Abandonada
O casarão fora construído há muito tempo. O mesmo tempo que se esqueceu do medo e descartou a fé com palavras de zombaria. A construção era rodeada de árvores, suas folhas farfalhavam com o leve empurrar da brisa e batiam nas paredes da mansão. As janelas observavam dois adolescentes, um menino é uma menina, conversando. Elas pareciam escarnecer a coragem dos ignorantes.
"Vamos, Eleanor" dizia o garoto. Ele estava encostado com os braços cruzados no carro preto em que haviam vindo. A impaciência começava a despontar de seu rosto, nos olhos castanhos como a terra -- Nós não viemos até aqui para você desistir agora.
"Não farei isso" murmurou a garota, em resposta. Seus cabelos negros como ébano desciam em ondas até o meio das costas; os lábios vermelho remontavam aos romances mais belo da História e os olhos violeta, com seu brilho rebelde, reluziam à pequena luz que emanava do pingente de madeira opalizada que pendia de seu pescoço.
"Você está com medo?" perguntou o garoto, seu irmão, Miguel. As costas de Eleanor enrijeceram. Aquelas palavras. Aquelas malditas palavras eram as únicas capazes de convencê-la e Miguel sabia disso. O desafio era para ela como a melodia do Flutista de Hamelin: cativante, sedutor, atrativo. O irmão dela deu de ombros "Está bem, eu ganhei a aposta. Você não consegue entrar na casa."
"Fique calado, eu irei entrar, Miguel" Ela andou até a entrada do lugar. Sentiu sua nuca se arrepiar quando colocou a mão na maçaneta da porta de entrada , um mau pressentimento envolveu seu coração, apertando-o dolorosa mente dentro do peito. Ela hesitou, olhando para trás, mas entrou mesmo assim.
O corredor era escuro. A poeira se acumulava no chão e nos móveis; no ar, ela dançava como pequeninas bailarinas rodopiantes. Eleanor tossiu, andando até a porta mais próxima, à sua esquerda, ignorando a cozinha e a escada.
Eleanor observou atentamente o cômodo: os sofás aveludado tomavam o centro da sala, o chão era envolvido em uma tapeçaria com padrões intricados e antigos, a lareira, a frente dos sofás, era de pedra cinzenta e acima dela havia um quadro. Ela sentiu o ar sair de seus pulmoes. Olhando para ela, uma versão mais velha dela própria estava retratada.
Os mesmos olhos, a mesma boca, o mesmo cabelo, o mesmo corpo, o mesmo coração, a mesma alma.
Uma nota soou no ar e Eleanor se virou rapidamente para o piano de cauda feito de carvalho no canto mais escuro da sala. Mais uma nota. E mais uma. Outra.
Do piano, um esqueleto envolvido em névoa negra, tecidos de roupas despedaçado e carne putrefada a encarava com um olhar sem olhos. Ela sentiu o pânico invadi-la, o coração batendo descompassado, as mãos estavam geladas. A respiração ficou presa. Ela precisava de ar, mas não conseguia fazê-lo entrar. Respire, pensou, respire. A caveira soltou uma gargalhada sinistra e ela se arrepiou.
"Olá, querida Eleanor" disse com uma voz suave. Como ela podia saber seu nome? "Deve estar se perguntando quem é a mulher na pintura. Posso responder isso. Sente-se."
Ela não se moveu. A caveira pareceu não gostar da sua atitude.
"Devia ser mais educada" ela se levantou da banco do piano e caminhou até Eleanor, que deu um passo para trás, batendo as pernas no sofá "Quer saber quem ela é? A mulher no quadro é Cora, a mulher que arruinou minha vida, que foi culpada de minha morte, a sua tataravó."
A caveira estendeu a mão para o rosto de Eleanor e agarrou-o com força; a carne podre cedendo à pressão do osso, que perfurou a pele fina e arranhou a bochecha de Eleanor.
"Ela fez isso comigo" repetiu a caveira lentamente "Então eu vou fazer pior com você. Eu vou dilacerar cada músculo, quebrar cada osso, passar sal em cada ferimento que eu causar e esfregá-lo em seus olhos, seus lindo olhos violeta, eu vou arrancá-los e você não verá nada belo no mundo, apenas trevas, nada para manter qualquer esperança acesa. Depois vou fazer o mesmo com cada pessoa que você ama, vou obrigá-la a escutar seus gritos, enquanto me suplicam pela morte. Eu vou me vingar de Cora, fazendo tudo isso em você, sua descendente."
"Não" lágrimas escorriam pela face de Eleanor, mas, por dentro, ela queimava de raiva. Como um raio, pegou o candelabro incrustado de jóias na mesinha de canto ao lado do sofá e atacou a caveira. Um guincho terrível e o som do osso se partindo soou alto e claro, mas ela não ficou ali. Correu até a porta, desesperada para sair. Precisava sair.
A porta se abriu quando a casa começou a balançar, mas Eleanor estava livre. Ela correu até o carro, a casa estremecia atrás dela. Sem uma palavra, ele ligou o carro e correu, como se nada houvesse acontecido. De longe, ela podia ouvir um sussurro: Eu vou matá-la.
Por Annabel Lee
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